Chegou meu pai. Um tronco de que não sei como saí, e que venero supersticiosamente. É loiro, é bonito, é elegante. E olho-o como um Júpiter no climatério, a pensar por que não lhe mereci nenhum dos encantos.
Passeio com o velhote, que me pediu que o trouxesse aqui, talvez por ser esta a imagem física mais convincente que tem dos inefáveis encantos celestes que o padre da terra lhe anda a prometer há oitenta e seis anos, e cuida que vai gozar em breve. Numa avidez desesperante, inventariou de novo todos os recantos deste paraíso, desde os pregos do calvário, nas capelas, ao tronco dos desvirgamentos, no hotel. E chorou no fim, não sei se de pura emoção, se do vinho tinto do almoço.
Curiosos, estes camponeses! A verdadeira grandeza, como a do mar, por exemplo, deixa-os insensíveis.
Excerto de uma entrada num dos seus Diários (24 e 25 de Maio de 1952)