sábado, 16 de julho de 2011

Salvem a última quinta da Maria do Céu Mendes!

Salvem a última quinta da Maria do Céu Mendes

Salvem a Escola Superior Agrária

Gosto de morar em Viseu mesmo com o desdém que a câmara municipal trata os espaços verdes da cidade. Olhamos ao Fontelo e, tirando a entrada, o resto é uma mata bonita de passear e difícil de usufruir. No Crasto, autentico pulmão da cidade, a inércia dos proprietários, o Estado contra quem todos vituperam, e a falta de pressão do município transformaram um espaço nobre numa coutada. O Parque da Cidade está em obras eternas e aquelas grades cercearam o interface com o Rossio. O parque da Radial de Santiago parece um oásis no deserto da Mauritânia: seco, sem arvores e sem que se toque no rio que já deu gáudio mas não dá caudal. Por fim sobram a Quinta e a Escola agrárias.

Pois bem eu não conheci a D. Maria do Céu Mendes mas tenho tido a paciência necessária para a conhecer. Doou várias quintas à cidade que, qual Cristo na Cruz, ostenta numa série de bairros o nome de quintas. A grande maioria doadas pela Maria do Céu Mendes como a da Escola Agrária onde dos 50 hectares apenas 10 são do IPV. Os outros 40 estão em regime de usufruto. Ao que me dizem os antigos a ideia da doação para usufruto foi para alimentar o Lar de Santo António. O espaço da ESA é o ultimo reduto antes da A 25. É um espaço lindo, com uma bonita lagoa, e ao que me dizem um notável ecossistema, que tem um problema. Deixou-se envolver pelo betão e agora prepara-se para ser retalhada. O novo Plano Director Municipal, feito por quem, dizem-me, planeia há 30 anos o urbanismo da cidade, preparara-se para retalhar a quinta colocando duas estradas a servir o crescimento imobiliário de uma cidade que já tem 1,5 edifícios para cada habitante.

Viva! Cada um de nós tem direito a casa e meia mas não tem direito a meia arvore sequer. Os cofres municipais agradecem as taxas, os cidadãos claudicam-nas por vergarem o direito que temos a viver numa cidade ambientalmente sustentável. Eu não quero ir morar para Tondela, onde os planeadores urbanísticos da cidade de Viseu deveriam ir tirar dois cursos: um de qualidade de vida e planeamento e outro de boas maneiras. O resultado destes planeamentos maravilha está bem patente na Praça 2 de Maio e no Parque de Santiago. Somos talvez a única cidade desta dimensão da Europa sem comboio e somos, quase de certeza, a única cidade desta dimensão sem um mercado digno desse nome. Queres legumes? Vai ao hipermercado. Queres fruta? Vai ao shoping, porque nesta cidade valorizar o ambiente, a pequena agricultura e os espaços verdes é bonito mas só para ter aspersores a regar estradas e a debitar quantidades industriais de água no alcatrão. Mais do resto parece crime queremos usufruir de uma cidade com qualidade de vida. Que a podemos ter se não transformarmos o pecúlio do trabalho da Maria do Céu Mendes em betão para casas vazias onde ninguém vai morar. 

Por mim irei mover o céu e a terra para impedir a aprovação do PDM na Assembleia Municipal. Bem sei que é presidida por um secretário de Estado que disse em Setúbal que, e cito, “este Governo tem as empresas no seu ADN porque só com elas conseguirá criar empregos e desenvolvimento”. Se não for lá pelo chumbo de políticos decentes sempre pode lá ir pelo fósforo, também apelidado de desobediência popular. Em última instância teremos sempre uma acção popular. Sei que já há quem esteja a reunir o dinheiro para a batalha judicial que se avizinha porque a maioria dos políticos que senta o rabo nas cadeiras do Solar dos Condes de Prime não pensa e verga-se. Verga-se ao sim senhor, à hierarquia porque todos temos que obedecer e não que pensar. Quase como em Lisboa, diria eu, tu mandas senão tiram-me o tacho e o emprego dos filhos. Mas, esta madrugada, gente rica, poderosa e conhecedora do legado da D. Maria do Céu Mendes atravessou-se e podemos lutar. É que não há direito. Enquanto noutras cidades se valorizam as pequenas horas, bem hajas Ribeiro Telles, nesta mata-se a quinta, a galinha, os patos e a vinha. Há aves que já nidificam na Quinta da Alagoa quando migram. E há patos que há anos que não erma vistos e que por ali passam.

Resta saber como vão ficar as crianças do Lar de Santo António mas isso será outra conversa. Rasgar a ESA, colocar lá duas estradas e passeios é matar um naco da cidade. Vale mais rasgar o PDM que assistir à destruição da minha cidade em nome de interesses que, não os querendo apelidar de cozinhados numa qualquer mesa de um qualquer hotel, direi apenas esconsos. Esconsos de inteligência, falhos de carácter e idiotas de traço.

Salvem a última quinta da D. Maria do Céu Mendes. Salvem a Escola Agrária e não permitam betão entre duas auto-estradas. Vivem pessoas nesta cidade. Caramba. Pessoas e crianças.

Salvem a última quinta da Dona Maria do Céu Mendes. Salvem a Escola Agrária e não deixem morrer a Quinta da Alagoa.

Augusto Paulo de Santa Ana.
(Extraído do Blogue Viseu, Senhora da Beira)

sábado, 18 de junho de 2011

Serra do Buçaco por Miguel Torga…

Chegou meu pai. Um tronco de que não sei como saí, e que venero supersticiosamente. É loiro, é bonito, é elegante. E olho-o como um Júpiter no climatério, a pensar por que não lhe mereci nenhum dos encantos.

Passeio com o velhote, que me pediu que o trouxesse aqui, talvez por ser esta a imagem física mais convincente que tem dos inefáveis encantos celestes que o padre da terra lhe anda a prometer há oitenta e seis anos, e cuida que vai gozar em breve. Numa avidez desesperante, inventariou de novo todos os recantos deste paraíso, desde os pregos do calvário, nas capelas, ao tronco dos desvirgamentos, no hotel. E chorou no fim, não sei se de pura emoção, se do vinho tinto do almoço.

Curiosos, estes camponeses! A verdadeira grandeza, como a do mar, por exemplo, deixa-os insensíveis.

Excerto de uma entrada num dos seus Diários (24 e 25 de Maio de 1952)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Plátanos abatidos em Sintra…

“Ponto da situação em Sintra:
 
Em Colares terminou recentemente a intervenção da EP, através da empresa "Rapamato" está irreconhecível!
Na Estrada que liga Colares a Galamares, foram abatidos vários plátanos.
 
A semana passada começou a intervenção na Vila Velha de Sintra: riodasmacas
 
Só amanhã é que tenho a avaliação dessa intervenção.
 
Por Sintra continuam as podas camarárias: riodasmacas
 
Informações que recebi indicam que teriam sido abatidos na última sexta-feira dezenas de pinheiros de grande porte, ao longo da estrada que liga a Lagoa Azul ao cruzamento para a barragem do Rio da Mula.

Abraços
Pedro Macieira”

Mais um crime que lesa arvores monumentais, escapando quase incólume…Vilanagem!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Porque falámos de árvores, de poesia e de água nestes dias...

Há dias foi dia da árvore, ontem também foi dia da água…tantos dias se esquece destas mesmas árvores e da mesma água…

A árvore das raízes

a minha infância tem uma árvore
assombrosa. É uma bela história de amor
entre as nossas mãos pequeninas
e aqueles seus braços enormes, bravos e
loucos como o riso das mães,
que faziam abrandar o medo e a tarde.

oito, nove, dez: virávamo-nos à procura dos outros
pelo labirinto de grutas cavado nas raízes,
ao abrigo do vento e da solidão que não tardaria
a descobrir o nosso esconderijo.

ao parar, há dias, na ‘Deslocação do Labirinto’,
imaginei que talvez Vieira da Silva
tivesse sonhado a minha árvore. (...)

As árvores acompanham-nos desde a infância, albergando princesas, duendes e outros seres, crescem connosco. Dos seus braços pendem baloiços, às vezes ostentam declarações de amor sob forma de cicatrizes e dão abrigo aos chilreios da passarada. Quantos de nós não temos "aquela árvore", pedaço de nós, dos cenários onde nos vamos formando...
Neste excerto de um poema de Renata Correia Botelho, lembremos as árvores que trazemos da infância.
Em Almada havia uma, imensa, labirinto de raízes e troncos.

Para que falemos de árvores, de poesia e de água todos os dias...

(Retirado de Maria Luís no facebook)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Árvores de Interesse Público - Património ambiental, um atractivo turístico

A propósito do grave perigo que corre a Mata do Buçaco com o abate de dezenas e dezenas de árvores, executado de forma bárbara e que provocou a destruição de outras árvores, danificadas e derrubadas pelas primeiras. Arvores monumentais, como os cedros, raras e únicas no espaço que ocupa, um artigo interessante que fala no interesse público em preservá-las e o processo que pode passar para se conseguir esta classificação, aqui em Portugal.

“Monumentais pelo seu tamanho, históricas pelo local onde se encontram, raras ou simplesmente muito antigas. Estes são alguns dos motivos que conduzem à classificação de uma árvore como de «Interesse Público», um processo que pode, por vezes, ser demorado devido a falta de recursos humanos ou incompreensão dos proprietários, diz a Associação Árvores de Portugal. A Autoridade Florestal Nacional pormenoriza como decorre a classificação. Quanto à Associação Árvores de Portugal alerta para a necessidade de melhor proteger este património. Além da preservação ambiental, estas árvores podem tornar-se atractivo turístico.”

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